quarta-feira, 11 de abril de 2012

CARTAS CHILENAS - Análise da obra.


CARTAS CHILENAS

AUTOR:  O texto de Cartas Chilenas é anônimo e permaneceu inédito até 1845. O anonimato se justifica, pois o contexto histórico em que foram escritas as cartas levaria tal autor à pena de morte, certamente. Por muito tempo sua autoria foi questionada por críticos e estudiosos, e Tomás Antonio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto foram apontados como seus possíveis autores, individualmente ou em regime de colaboração. Estudos posteriores, principalmente os de Rodrigues Lapa, deram praticamente a certeza de que os textos foram produzidos por Gonzaga.
Tomás Antonio Gonzaga: Nasceu na cidade do Porto, em Portugal (1744). Seu registro de óbito nunca foi encontrado (Moçambique, 1810?). Filho de pai brasileiro e mãe portuguesa, vem para o Brasil em 1750. Em 1761 retorna a Portugal para fazer Direito em Coimbra. Em 1782, volta ao Brasil para assumir o cargo de ouvidor-geral em Vila Rica. Em 1783, Luís da Cunha Meneses assume o governo de Minas Gerais. É provável que neste mesmo ano Gonzaga tenha conhecido Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, por quem se apaixonou. Participou, ao lado de outros profissionais e poetas, do movimento de Inconfidência Mineira. É preso e enviado à fortaleza da Ilha das Cobras. Em 1792 é condenado a dez anos de degredo em Moçambique. Casou-se com Juliana de Souza Mascarenhas. Dentre suas principais obras, encontram-se: Marília de Dirceu, Cartas chilenas e Tratado de Direito Natural. É considerado um dos maiores escritores do movimento árcade brasileiro.

GÊNERO: o texto é formado por treze cartas, escritas em decassílabos brancos (sem rimas). Aristóteles definiu bem os três gêneros – épico, lírico e dramático, mas eles não contemplam todos os textos literários já escritos. As cartas de Critilo, lidas em sequência formam um todo que pode ser considerado uma narrativa epistolar. O próprio Critilo atribui a seus escritos o componente épico, ao afirmar na 9ª carta que vai relatar os “feitos” de um “herói”:
Nasceu o sábio Homero entre os antigos,
Para o nome cantar do grego Aquiles;
Para cantar, também, ao pio Enéias,
Teve o povo romano o seu Vergílio:
Assim, para escrever os grande feitos
Que o nosso Fanfarrão obrou em Chile,
Entendo, Doroteu, que a Providência
Lançou, na culta Espanha, o teu Critilo.

ESTRUTURA;
Na íntegra, o texto é composto por:
  • Prólogo: introdução feita por um suposto tradutor, que conta como recebeu as cartas chilenas e decidiu traduzi-las.
  • Dedicatória aos grandes de Portugal: além de dedicar as cartas aos nobres portugueses, esse tradutor conclama-os a se tornarem mecenas e protetores de sua publicação.
  • Treze cartas, compostas por 4268 versos, que Critilo, escrevendo de Santiago do Chile, remete a Doroteu, na Espanha, sendo:
    1. Em que se descreve a entrada que fez Fanfarrão em Chile.
Descrição de Fanfarrão (versos 74 a 92), seus acompanhantes, Robério, Matúsio e um padre (110 a 150). A recepção que teve e sua posse.
    1. Em que se mostra a piedade que Fanfarrão fingiu no princípio do seu governo, para chamar a si todos os negócios.
    2. Em que se contam as injustiças e violências que Fanfarrão executou por causa de uma cadeia, a que deu princípio.
    3. Em que se continua a mesma matéria.
    4. Em que se contam as desordens feitas nas festas que se celebraram nos desposórios do nosso sereníssimo infante com a sereníssima infanta de Portugal.
Trata-se do casamento de D. João VI e D. Carlota Joaquina.
    1. Em que se conta o resto dos festejos.
    2. (Carta incompleta) Amaldiçoa o pai de Fanfarrão por tê-lo posto no mundo, e condena o mesmo chefe por agir injustamente nos tribunais.
    3. Em que se trata da venda dos despachos e dos contratos.
    4. Em que se contam as desordens que Fanfarrão obrou no governo das tropas.
    5. Em que se contam as desordens maiores que Fanfarrão fez no seu governo.
    6. Em que se contam as brejeirices de Fanfarrão.
    7. Em que mostra até onde chegam as grandezas que fez com os marotos.
    8. (Carta inacabada)
  • Epístola a Critilo: Resposta de Doroteu a Critilo, em que expõe suas emoções diante dos fatos narrados e explicita os efeitos que as cartas provocarão nos chefes ruins e impuros.


 SOBRE A OBRA:

 Cartas chilenas expõe, de modo caricato e impiedoso, os atos corruptos e grosseiros de Fanfarrão Minésio, governador do Chile. No entanto, a obra satiriza de fato o governo de Luís da Cunha Meneses, governador da Capitania das Minas Gerais entre 1783 e 1788. Existe uma estreita relação entre Espanha, Madrid, Salamanca, Chile e Santiago, com Portugal, Lisboa, Coimbra, Minas Gerais e Vila Rica, respectivamente.
Por suas ações, Minésio deve servir de antiexemplo aos governantes portugueses no Brasil, ou seja, vendo o que ele faz de errado, os chefes devem reconhecer suas arbitrariedades e tentar mudar para melhor.

Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode também corrigir a desordem de um governador despótico.

O contexto histórico coincide com a época da Inconfidência Mineira; as arbitrariedades econômicas e políticas relembram a alta cobrança de impostos e os atos grosseiros e desmandos dos governantes do período.
Como poema representante do Arcadismo, nota-se nele a presença de citações clássicas (deuses, poetas, governantes), o verso decassílabo e o predomínio da razão. O poeta/remetente via em Fanfarrão um atentado ao equilíbrio natural da sociedade.  Entretanto não se percebe nenhuma crítica direta ao sistema colonial, mas à má administração de Fanfarrão.
Alguns estudiosos afirmam que as cartas, manuscritas, circulavam largamente por Vila Rica.

Nas treze cartas pode-se identificar:
Remetente (emissor): Critilo.
Destinatário (receptor): Doroteu.
Referente: Fanfarrão Minésio, governador do Chile, e suas diversas ações no desempenho de sua função.
Código: Língua portuguesa escrita (século XVIII).
Canal: cartas.
Mensagem: sátira mordaz, em versos decassílabos brancos, com uso de linguagem conotativa.

Na Epístola a Critilo, remetente e destinatário se invertem.

As funções da linguagem que se destacam são:
Emotiva: o emissor transmite suas opiniões e impressões sobre as diversas condutas de Fanfarrão.
Conativa ou apelativa: centrada em Doroteu, aparece nos inúmeros vocativos presentes no texto e nos vários imperativos com  que o emissor se dirige ao receptor para persuadi-lo da verdade dos fatos que narra.
Referencial: centrada em Fanfarrão Minésio, pretende informar ao receptor suas ações e condutas.
Poética: presente nas escolhas feitas pelo poeta – uso do poema, com métrica regular (decassílabo), linguagem figurada e sem rimas.

Dentre as várias funções de um texto literário, destaca-se em Cartas chilenas a intenção de denunciar a realidade, levar à reflexão e formar identidades. Provocar catarse é o que pretende também o escritor das mesmas pois, através do riso e do horror, pretende mudar o comportamento das pessoas.

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