CARTAS CHILENAS
AUTOR: O texto de Cartas Chilenas é anônimo e
permaneceu inédito até 1845. O anonimato se justifica, pois o contexto
histórico em que foram escritas as cartas levaria tal autor à pena de morte,
certamente. Por muito tempo sua autoria foi questionada por críticos e
estudiosos, e Tomás Antonio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga
Peixoto foram apontados como seus possíveis autores, individualmente ou em
regime de colaboração. Estudos posteriores, principalmente os de Rodrigues Lapa,
deram praticamente a certeza de que os textos foram produzidos por Gonzaga.
Tomás
Antonio Gonzaga:
Nasceu na cidade do Porto, em Portugal (1744). Seu registro de óbito nunca foi
encontrado (Moçambique, 1810?). Filho de pai brasileiro e mãe portuguesa, vem para
o Brasil em 1750. Em 1761 retorna a Portugal para fazer Direito em Coimbra. Em 1782,
volta ao Brasil para assumir o cargo de ouvidor-geral em Vila Rica. Em 1783, Luís da
Cunha Meneses assume o governo de Minas Gerais. É provável que neste mesmo ano Gonzaga
tenha conhecido Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, por quem se apaixonou.
Participou, ao lado de outros profissionais e poetas, do movimento de
Inconfidência Mineira. É preso e enviado à fortaleza da Ilha das Cobras. Em
1792 é condenado a dez anos de degredo em Moçambique. Casou-se
com Juliana de Souza Mascarenhas. Dentre suas principais obras, encontram-se: Marília de Dirceu, Cartas chilenas e Tratado de
Direito Natural. É considerado um dos maiores escritores do movimento
árcade brasileiro.
GÊNERO: o texto é formado
por treze cartas, escritas em decassílabos brancos (sem rimas). Aristóteles
definiu bem os três gêneros – épico, lírico e dramático, mas eles não
contemplam todos os textos literários já escritos. As cartas de Critilo, lidas
em sequência formam um todo que pode ser considerado uma narrativa epistolar. O próprio Critilo atribui a seus escritos o
componente épico, ao afirmar na 9ª carta que vai relatar os “feitos” de um
“herói”:
Nasceu
o sábio Homero entre os antigos,
Para o
nome cantar do grego Aquiles;
Para
cantar, também, ao pio Enéias,
Teve o
povo romano o seu Vergílio:
Assim,
para escrever os grande feitos
Que o
nosso Fanfarrão obrou em Chile,
Entendo,
Doroteu, que a Providência
Lançou,
na culta Espanha, o teu Critilo.
ESTRUTURA;
Na íntegra, o texto é composto por:
- Prólogo: introdução feita por um suposto tradutor, que conta como recebeu as cartas chilenas e decidiu traduzi-las.
- Dedicatória aos grandes de Portugal: além de dedicar as cartas aos nobres portugueses, esse tradutor conclama-os a se tornarem mecenas e protetores de sua publicação.
- Treze cartas, compostas por 4268 versos, que Critilo, escrevendo de Santiago do Chile, remete a Doroteu, na Espanha, sendo:
- Em que se descreve a entrada que fez Fanfarrão em Chile.
Descrição de Fanfarrão
(versos 74 a
92), seus acompanhantes, Robério, Matúsio e um padre (110 a 150). A recepção que
teve e sua posse.
- Em que se mostra a piedade que Fanfarrão fingiu no princípio do seu governo, para chamar a si todos os negócios.
- Em que se contam as injustiças e violências que Fanfarrão executou por causa de uma cadeia, a que deu princípio.
- Em que se continua a mesma matéria.
- Em que se contam as desordens feitas nas festas que se celebraram nos desposórios do nosso sereníssimo infante com a sereníssima infanta de Portugal.
Trata-se do casamento
de D. João VI e D. Carlota Joaquina.
- Em que se conta o resto dos festejos.
- (Carta incompleta) Amaldiçoa o pai de Fanfarrão por tê-lo posto no mundo, e condena o mesmo chefe por agir injustamente nos tribunais.
- Em que se trata da venda dos despachos e dos contratos.
- Em que se contam as desordens que Fanfarrão obrou no governo das tropas.
- Em que se contam as desordens maiores que Fanfarrão fez no seu governo.
- Em que se contam as brejeirices de Fanfarrão.
- Em que mostra até onde chegam as grandezas que fez com os marotos.
- (Carta inacabada)
- Epístola a Critilo: Resposta de Doroteu a Critilo, em que expõe suas emoções diante dos fatos narrados e explicita os efeitos que as cartas provocarão nos chefes ruins e impuros.
SOBRE A OBRA:
Cartas chilenas expõe, de modo caricato e impiedoso, os atos corruptos e grosseiros de
Fanfarrão Minésio, governador do Chile. No entanto, a obra satiriza de fato o
governo de Luís da Cunha Meneses, governador da Capitania das Minas Gerais
entre 1783 e 1788. Existe uma estreita relação entre Espanha, Madrid,
Salamanca, Chile e Santiago, com Portugal, Lisboa, Coimbra, Minas Gerais e Vila
Rica, respectivamente.
Por suas ações, Minésio deve servir de
antiexemplo aos governantes portugueses no Brasil, ou seja, vendo o que ele faz
de errado, os chefes devem reconhecer suas arbitrariedades e tentar mudar para
melhor.
Um D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos
cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode também corrigir a desordem de um
governador despótico.
O contexto histórico coincide com a época da
Inconfidência Mineira; as arbitrariedades econômicas e políticas relembram a
alta cobrança de impostos e os atos grosseiros e desmandos dos governantes do
período.
Como poema representante do Arcadismo,
nota-se nele a presença de citações clássicas (deuses, poetas, governantes), o
verso decassílabo e o predomínio da razão. O poeta/remetente via em Fanfarrão
um atentado ao equilíbrio natural da sociedade.
Entretanto não se percebe nenhuma crítica direta ao sistema colonial,
mas à má administração de Fanfarrão.
Alguns estudiosos afirmam que as cartas,
manuscritas, circulavam largamente por Vila Rica.
Nas treze cartas pode-se identificar:
Remetente (emissor): Critilo.
Destinatário (receptor): Doroteu.
Referente: Fanfarrão Minésio, governador do
Chile, e suas diversas ações no desempenho de sua função.
Código: Língua portuguesa escrita (século
XVIII).
Canal: cartas.
Mensagem: sátira mordaz, em versos
decassílabos brancos, com uso de linguagem conotativa.
Na Epístola a Critilo, remetente e
destinatário se invertem.
As funções da linguagem que se destacam são:
Emotiva: o emissor transmite suas opiniões e
impressões sobre as diversas condutas de Fanfarrão.
Conativa ou apelativa: centrada em Doroteu,
aparece nos inúmeros vocativos presentes no texto e nos vários imperativos
com que o emissor se dirige ao receptor
para persuadi-lo da verdade dos fatos que narra.
Referencial: centrada em Fanfarrão Minésio,
pretende informar ao receptor suas ações e condutas.
Poética: presente nas escolhas feitas pelo
poeta – uso do poema, com métrica regular (decassílabo), linguagem figurada e
sem rimas.
Dentre as várias funções de um texto
literário, destaca-se em Cartas chilenas a
intenção de denunciar a realidade, levar à reflexão e formar identidades.
Provocar catarse é o que pretende também o escritor das mesmas pois, através do
riso e do horror, pretende mudar o comportamento das pessoas.
Me ajudou muito!
ResponderExcluirVLW cara, muito bom!!!
ResponderExcluirajudou demais,obrigada
ResponderExcluirValeuuuuuu!!
ResponderExcluirvaleu msm
ResponderExcluirMe ajudou bastante valeu......
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